O coração precisa gritar...

Há uma força estranha, ela domina e ao mesmo tempo retém

Há um obscuro quieto, calado e profundo
Há um verde e tantas gotas de orvalho caindo
Há pássaro voando e chegando ao seu ninho

Há verdades e mentiras, contadas e desenhadas
Há tormentos, inquietação e plenitude

Há jardins com rosas lindas e harmoniosas

Há pessoas cantando canções ao tempo

Há poetas declamando e os corações se perdendo
Há o medo da voz, dos fatos e das partidas
Há morte misturada com vida
Há tantas histórias para contar nas estrofes perdidas

Há momentos meus, teus, apagando e revelando
Há luta e brilho no olhar, tentando se arriscar
Há vidas nascendo e mortes nos fazendo calar
Calando eu vou me recolhendo, aquietando o meu coração que às vezes precisa gritar.

É preciso ter coragem...

Um novo tempo à desperta e as vezes se sente perdida.

Ela já sabe que rumo vai tomar, inclusive já deu os primeiros passos tão difíceis.

Pela primeira vez, sente que conseguiu deixar para trás e apostar em si.

Acreditando na luta, no seu recomeço, mas por outro lado doeu.

Doeu ter sido tão rigorosa, cortando laços de uma vez por todas que já deviam ter desfeitos há muito tempo.

E agora vai seguindo, com a certeza que tudo vai ser diferente.

Até mesmo seu modo de andar, não vai mais abaixar a cabeça e sim deixá-la erguida com a espinha ereta.

Tudo é novo de novo, mas dessa vez percebe que se transformou, pelo simples fato de deixar ir.

Talvez alguns momentos de solidão, vão dexá-la triste, mas tem total consciência que precisa deles.

Precisa deles para continuar e se reencontrar.

Porque enquanto estiver viva, em qualquer fase e idade da sua vida, ela sabe que é preciso ter coragem sempre de recomeçar.

Viagem do Amor...

Os verões se tornaram quentes demais, precisavam que o inverno chegasse logo.

Como ia demorar, não pensaram duas vezes e foram em busca dele.

No vento frio e gélido só existiam as cobertas, os carinhos e os corpos se aquecendo.

Há tanto tempo não se permitiam esse momentos de entrega e paixão. 

Era tão evidente e forte o que sentiam, mas talvez por medo de amar e se machucar novamente de ambas as partes, lutaram para se afastar um do outro.

Quando se encontravam, os corações balançavam, a sutileza da alma, a química da pele, junto com a força do cheiro os dominavam e os olhos se cruzavam.

Os olhos que não mentia, apenas demonstrava tudo que eles sentiam, um pelo outro.

Deixaram o amor vencer e decidiram vive-lo.

Naquele clima frio com a neve caindo, paralisaram no tempo.

Se esqueceram que existia um mundo em volta, estavam somente ali, se esquentando e se amando.

A cada instante e gesto o coração disparava, não existia preocupações, compromissos, responsabilidades e muito menos pressa.

Só existia desejos, abraços, beijos apaixonados e a certeza plena de estar com o grande amor.

Na despedida dessa viagem amorosa, ambos silenciaram com a convicção, de que passarão o resto da vida juntos.

Renascer na Luz...

Só precisou ouvir um choro, para saber que ali naquele lixo, existia um neném embrulhado num saco plástico.

Sentiu medo de encarar e olhar aqueles olhinhos, mas num ato de coragem desembrulhou e tirou o neném.

Era uma visão inexplicável, onde alegria e tristezas tomavam o seu coração.

A alegria de saber que mais uma vida nascera, desapontava e se manisfestava.

E a dor de ver aqueles olhinhos chorando, tristes, desprotegidos e abandonados.

Tantos sentimentos dominavam e tantas coisas passavam na sua mente.

Providências precisavam ser tomadas, mas a prisão aqueles olhos não o deixavam agir.

Começou a caminhar com aquela criatura tão pequenina e indefesa, sem rumo e ao mesmo tempo sem pressa.

Pensou na vida, olhou em volta e tudo veio em sua mente, o mundo, a humanidade, as maldades, a ganância, a cobiça.

Avistou um ninho de passarinhos e observou o quanto a mãe deles os protegia, lembrou de todos os animais e refletiu que nenhum deles abandonavam seus filhotes.

A não ser o homem, o único animal que tem o dom do raciocínio, era capaz de jogar o seu próprio filho em um saco de lixo.

Seu olhar voltou para aquela criatura tão pequenina e indefesa e ao mesmo tempo cheia de vida.

Num gesto de amor incondicional, envolveu-o em seus braços e percebeu que podia fazer diferente.

Dando uma vida dígna a essa criatura, com muito amor, porque no meio de tantas maldades e escuridão, ajudando o seu semelhante, ele percebeu que fazendo a sua parte, pode perfeitamente todos os dias Renascer na Luz.

Tem a cor do desejo...

Há tantos mistérios neste olhar, queria eu poder decifrar tudo que esses olhos tem para me expressar.

Tão profundo é o brilho que saltam deles, me deixando confusa, solta, sem saber o que pensar.

Se ainda fossem azuis, iria direto para as águas do mar, mas não, eles são da cor de mel.

Essa cor de mel misteriosa, abstrata, que me faz achar coisas tão diferentes e eu navego no desejo, no cílios e nas sobrancelhas.

Eles me prendem, me tocam sem nem ao menos relar em mim.

Eu viajo neste mel, meio castanho, meio esverdeado, me embaraço e a impressão é que vou te despir inteiro.

Porque quando olho nos teus olhos, vou no íntimo da tua alma e faço de ti meu refém.

Meu refém de todas as minhas loucuras, malícias, afetos e desejos.

Os desejos dos seus olhos irem de encontro com os meus castanhos, de brilho forte, com nuâncias de sinceridade e paixão.

Basta olhar no meu olhar e deixar que nos tornamos, apenas um só.

Olhar as pessoas...

Gosto de olhar as pessoas seja em uma caminhada pelas ruas, ou parada num canto.

Fico observando os olhares, a posição das mãos, às vezes inquietas, ou sem movimentos, demonstrando calma ou até mesmo preocupação.

Imagino quantas histórias cada um tem para contar.

Em cada olhar um vestígio de expressão, experiência, mágoas e sentimentos.

As particularidades que todo ser humano possui na estrada da vida.

Cada um com o seu dom, o seu mérito e sua virtude de viver. 

Traçando assim a missão não só de habitar o mundo, mas de fazer parte dos acontecimentos.

Criando, agindo, se desenvolvendo à sua maneira.

Somos seres únicos!

E a vida sempre tão curiosa, pois acredito que todos nós temos os nossos mistérios.

Começamos o mistério pelo simples fato de Ser, Estar e Existir...