Eu e essa velha mania de ler tudo que posso e quero.
Quando ganhei o livro da autobiografia
dessa incrível mulher e atriz Norma Bengell estava em um período de muito
trabalho.
Na condição de ser atriz e amar o que faço
estava com 4 peças para decorar, ou seja, 4 personagens para construir.
Quando estreei todos os espetáculos logo
veio a calmaria.
E, então voltei a minha velha mania de ler
livros.
Meu lindo namorado me deu de presente esse
livro e disse: Leia você vai gostar.
Muito mais do que gostar fiquei encantada
e virei fã dessa grande mulher e atriz.
Norma Bengell era uma mulher a frente do
seu tempo.
Desde criança quando morou em um colégio
interno sempre se demonstrou uma revolucionária que ninguém conseguia calar.
Personalidade forte, menina e depois
mulher de opinião.
Norma iniciou sua carreira artística como
manequim na Casa Canadá.
Logo depois foi para o teatro de revista,
onde ouviu a seguinte frase de Carmen Miranda: Dessa turma toda, você é quem
vai ser uma grande estrela.
Cumpriu-se a profecia de Carmen Miranda.
Norma não foi só uma estrela nacional do
cinema, mas também internacional.
Foi ela a primeira mulher a protagonizar
nas telas do cinema brasileiro o primeiro nu frontal. O que na época foi um
escândalo.
O que mais me fez mergulhar em sua
autobiografia foi à mulher corajosa que lutou não só por sua condição de mulher
como também por uma sociedade mais justa.
Viveu vários amores e nunca se privou de
atender os seus desejos e anseios.
Uma mulher libertária.
Uma mulher libertária.
Despida de corpo e alma nunca se calou e
como todas as mulheres que se posicionam sofreu muito preconceito da sociedade.
Lutou bravamente contra a ditadura
militar, usando sua arte para denunciar os abusos, violências e injustiças
cometidas pelos militares.
Viu amigos serem torturados e mortos pela
ditadura.
Participou da passeata dos cem mil.
Foi presa e exilada.
Amiga de Jango ela descreve sua relação
com o ex presidente e conta da esperança que ele tinha de voltar ao Brasil
quando os dois estavam exilados na França.
Norma conheceu Simone de Beavoir e pediu
ajuda para libertar Inês Etienne Romeu a única presa política condenada a
prisão perpétua no Brasil torturada e violentada dia e noite na famosa Casa da
Morte.
O exílio para Norma no começo foi muito
doloroso e um recomeço, mas ela foi uma fênix e conseguiu fazer um grande
sucesso no cinema francês.
Voltou para o Brasil uma nova mulher.
Na sua volta sofreu mais uma vez a
perseguição.
Na praia foi agredida por um grupo de
rapazes que jogaram copos com areia, molho de tomate e junto com sua grande
amiga Sandra foi xingada de puta, lésbica, macumbeira e comunista.
Eles gritavam em peso fora do meu país,
mas Norma os encarou e não se deixou abalar.
Continuou fazendo teatro e cinema.
Teve uma briga com Daniel Filho, pois iria fazer a antagonista da
novela Dancin Days e a TV Globo recusou em colocá-la nos créditos principais já
que era a antagonista e sua personagem ficou com Joana Fomm.
Teve que enfrentar mais uma vez a maldade
da imprensa que a perseguia.
Norma decidiu produzir os seus filmes e
dirigi-los como Eternamente Pagú e O Guarani.
O Guarani foi quase o golpe de
misericórdia de sua carreira.
Já que a Revista Veja fez questão de
espalhar que Norma tinha ficado com o dinheiro que o governo havia lhe dado
para fazer o filme.
Ela cita no livro sua consciência
tranquila em relação a esse assunto.
Norma Bengell terminou a sua vida em uma
cadeira de rodas e cheia de dívidas.
Mesmo assim recebeu uma homenagem no
Grande Prêmio do Cinema Brasileiro, em 2011. Entrou no palco devagar na cadeira
de rodas e foi aplaudida de pé pela platéia, essa foi uma das partes do livro
que mais me arrepiou.
Ela viveu muito, amou muito, mas teve dois
grandes amores Gabriele Tinti (ator italiano) e Gilda Grillo.
Muito mais do que uma atriz Norma foi uma
dessas grandes mulheres que desafiou o tempo, a sociedade e lutou até o fim
pelas injustiças do mundo.
Porque o que ela queria ela conseguiu, que
era não morrer muda.
A maneira de como Norma morreu: só,
abandonada, pois todos sumiram me tocou muito.
Pois doeu saber que uma mulher incrível
como ela tenha tido somente 15 pessoas em seu enterro.
Mas, como foi citado no posfácio de seu
livro. A nós, só resta aplaudir.
Durante a minha vida, me acusaram de ser
muitas coisas: Puta, comunista, sapatão, sapatilha. Mas nunca poderão me acusar
de uma coisa: De que fui covarde. (Norma Bengell)