domingo, 29 de novembro de 2015

Para Norma Bengell...


Eu e essa velha mania de ler tudo que posso e quero.
Quando ganhei o livro da autobiografia dessa incrível mulher e atriz Norma Bengell estava em um período de muito trabalho.
Na condição de ser atriz e amar o que faço estava com 4 peças para decorar, ou seja, 4 personagens para construir.
Quando estreei todos os espetáculos logo veio a calmaria.
E, então voltei a minha velha mania de ler livros.
Meu lindo namorado me deu de presente esse livro e disse: Leia você vai gostar.
Muito mais do que gostar fiquei encantada e virei fã dessa grande mulher e atriz.
Norma Bengell era uma mulher a frente do seu tempo. 
Desde criança quando morou em um colégio interno sempre se demonstrou uma revolucionária que ninguém conseguia calar.
Personalidade forte, menina e depois mulher de opinião.
Norma iniciou sua carreira artística como manequim na Casa Canadá.
Logo depois foi para o teatro de revista, onde ouviu a seguinte frase de Carmen Miranda: Dessa turma toda, você é quem vai ser uma grande estrela.
Cumpriu-se a profecia de Carmen Miranda.
Norma não foi só uma estrela nacional do cinema, mas também internacional.
Foi ela a primeira mulher a protagonizar nas telas do cinema brasileiro o primeiro nu frontal. O que na época foi um escândalo.
O que mais me fez mergulhar em sua autobiografia foi à mulher corajosa que lutou não só por sua condição de mulher como também por uma sociedade mais justa.
Viveu vários amores e nunca se privou de atender os seus desejos e anseios. 
Uma mulher libertária.
Despida de corpo e alma nunca se calou e como todas as mulheres que se posicionam sofreu muito preconceito da sociedade.
Lutou bravamente contra a ditadura militar, usando sua arte para denunciar os abusos, violências e injustiças cometidas pelos militares.
Viu amigos serem torturados e mortos pela ditadura.
Participou da passeata dos cem mil.
Foi presa e exilada.
Amiga de Jango ela descreve sua relação com o ex presidente e conta da esperança que ele tinha de voltar ao Brasil quando os dois estavam exilados na França.
Norma conheceu Simone de Beavoir e pediu ajuda para libertar Inês Etienne Romeu a única presa política condenada a prisão perpétua no Brasil torturada e violentada dia e noite na famosa Casa da Morte.
O exílio para Norma no começo foi muito doloroso e um recomeço, mas ela foi uma fênix e conseguiu fazer um grande sucesso no cinema francês.
Voltou para o Brasil uma nova mulher.
Na sua volta sofreu mais uma vez a perseguição.
Na praia foi agredida por um grupo de rapazes que jogaram copos com areia, molho de tomate e junto com sua grande amiga Sandra foi xingada de puta, lésbica, macumbeira e comunista.
Eles gritavam em peso fora do meu país, mas Norma os encarou e não se deixou abalar.
Continuou fazendo teatro e cinema.
Teve uma briga com Daniel Filho, pois iria fazer a antagonista da novela Dancin Days e a TV Globo recusou em colocá-la nos créditos principais já que era a antagonista e sua personagem ficou com Joana Fomm.
Teve que enfrentar mais uma vez a maldade da imprensa que a perseguia.
Norma decidiu produzir os seus filmes e dirigi-los como Eternamente Pagú e O Guarani.
O Guarani foi quase o golpe de misericórdia de sua carreira.
Já que a Revista Veja fez questão de espalhar que Norma tinha ficado com o dinheiro que o governo havia lhe dado para fazer o filme.
Ela cita no livro sua consciência tranquila em relação a esse assunto.
Norma Bengell terminou a sua vida em uma cadeira de rodas e cheia de dívidas.
Mesmo assim recebeu uma homenagem no Grande Prêmio do Cinema Brasileiro, em 2011. Entrou no palco devagar na cadeira de rodas e foi aplaudida de pé pela platéia, essa foi uma das partes do livro que mais me arrepiou.
Ela viveu muito, amou muito, mas teve dois grandes amores Gabriele Tinti (ator italiano) e Gilda Grillo.
Muito mais do que uma atriz Norma foi uma dessas grandes mulheres que desafiou o tempo, a sociedade e lutou até o fim pelas injustiças do mundo.
Porque o que ela queria ela conseguiu, que era não morrer muda.
A maneira de como Norma morreu: só, abandonada, pois todos sumiram me tocou muito.
Pois doeu saber que uma mulher incrível como ela tenha tido somente 15 pessoas em seu enterro.
Mas, como foi citado no posfácio de seu livro. A nós, só resta aplaudir.


Durante a minha vida, me acusaram de ser muitas coisas: Puta, comunista, sapatão, sapatilha. Mas nunca poderão me acusar de uma coisa: De que fui covarde. (Norma Bengell)

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