Aquela criança me impressionou com seu olhar.
Um olhar inocente e ao mesmo tempo dolorido.
Não tinha perspectiva de futuro e amargava lembranças fortes
do seu passado.
Aquela criança sorriu pra mim e no seu sorriso a carência, a falta de afeto e a solidão.
Minhas mãos deslizaram em seu rosto e aquele carinho encheu
os seus olhos de esperança e compaixão.
Compaixão por ela mesma...
Compaixão por mim...
Num ato de coragem pegou em minhas mãos, segurou-as com muita
força e as beijou.
Em um gesto solene, doce, amável me tocou muito mais forte
do que eu poderia tocá-la.
Foi se afastando, pegou o seu único brinquedo e brincava
fitando-me com os olhos.
E no seu olhar a felicidade misturada com o medo.
O medo de não saber para onde vai e a felicidade de se
sentir acarinhada pela primeira vez.
Aquela criança partiu me deixando triste, angustiada, sem
voz e sem ação.